terça-feira, 12 de junho de 2007

Um pôr-do-sol em África

Não compreendo muito bem porquê, mas sou daquelas pessoas que quando precisam de afastar a mente de tudo, precisam de afastar o corpo também. Felizmente até hoje, sempre tive essa possibilidade, e por isso escrevo de longe. Com os cumprimentos de África do Sul.

Apesar de cá estar há apenas uma semana, os milhares de quilómetros que me separam de tudo o que me prende qual cordão umbilical, parecem ajudar e de novo sinto o meu espírito mais leve. Só as saudades da família e amigos escurecem os meus dias…

Se por um lado dou por mim em contagem decrescente para voltar a ver todos, por outro lado, essa mesma contagem decrescente lembra-me que vou voltar à rotina habitual. As mesmas caras no trabalho, os mesmos comentários feitos pelas costas, os mesmos nicks no MSN… Tudo resultante da minha própria fraqueza de espírito, eu sei, e pelo mesmo motivo tão difícil de confrontar.

O trabalho… Bem, o trabalho se fosse bom não teria tal nome! Seria com agrado e um sorriso que eu começaria os meus dias, ao invés de me arrastar da cama para fora como já acontecia dia após dia há tanto tempo! Problemas de trabalho são fáceis de resolver, já eu ouvi! Muda-se de trabalho e pronto! Solução fácil, não fosse este país a que chamamos de berço e lar! Ao fim de 4 meses à procura de uma mudança, assusta-me ver que tudo o que encontro é uma realidade que não devia existir. O que fazer então quando o que tenho agora não chega? A alternativa que encontrei chama-se emigração… A realidade que encontrei dá pelo nome de distância… Mas é uma questão ainda com tempo para ser resolvida!

Começa a preocupar-me esta minha aparente independência. Quando estava de partida, disseram-me que eu não podia vir embora de vez. Que não o podia abandonar. A verdade é que não há ninguém a quem abandonar… Há bastante tempo que não. E se por um lado agrada-me esta ideia de agarrar numa mala e simplesmente partir, por outro lado torna-se solitário não ter porquê olhar para trás. É como ser parte de um capítulo intermédio, com alguma importância para o desenlace da história, mas sem importância suficiente para ser recordado no seu final. Ser um acto sem consequência! Parte de mim já não sabe ser de outra maneira, mas outra parte ainda se lembra de como tudo já foi diferente.

É este ser que já chamo “Eu” que questiona se aquele telefonema antes da partida devia ter sido respondido de outra forma. Que ainda questiona se vale a pena ouvir motivos, ou se simplesmente é mais uma perda de tempo… E aprendi que o tempo é tão precioso! Em erros antigos já sei que não caio. Como prova disso tenho o “Z” e como ainda espera resposta a propostas que já expiraram há tanto tempo! Engraçado como os homens têm um complexo de Boomerang! Mas continuo com esta dificuldade a que chamo “burrice” de lidar com situações novas. Basta um problema antigo apresentar-se com uma cara e nome diferentes e já não sei como agir!

O pôr-do-sol em África é como nenhum outro que eu tenha visto! O tamanho das planícies, as cores e os cheiros… Tudo me deixa ciente da minha pequenez! Todos os dias passo por um “bairro social”, que é como aqui chamam às barracas (palhotas de contraplacado, é o que me parecem a mim)! E todos os dias, absorta nos meus pensamentos, que neste momento residem noutro fuso horário, ao passar por estes bairros, dou por mim envergonhada por fazer desta minha pequenez o centro de um Universo inteiro! Não há como explicar, mas é como se naquele momento, ao ver os miúdos jogar à bola na berma de uma estrada, e só por um momento, eu conseguisse que este peso nos meus ombros fosse equivalente a uma pena que se afasta livremente!

Começo também a compreender o meu pai, quando me dizia que se sentia dividido entre dois Continentes! Também já me sinto assim. É como se gerações inteiras que me correm no sangue de repente despertassem num só grito: “ Isto também és tu!”. Esta forma tão não-europeia de respirar, de andar, de viver! Tão diferente de tudo o que já vimos na televisão! Mas como pode uma árvore viver com as raízes num país, e com os ramos a tocar o solo de outro?

E de repente o meu lado europeu traz-me de novo a memória daquela voz...



Other side of the world
Kt Tunstall



Over the sea and far away
She's waiting like an iceberg
Waiting to change
But she's cold inside
She wants to be like the water

All the muscles tighten in her face
Buries her soul in one embrace
They're one and the same
Just like water

The fire fades away
Most of everyday is full of tired excuses
But it's too hard to say
I wish it were simple but we give up easily
You're close enough to see that you're the other side of the world to me

On comes the panic light
Holding on with fingers and feelings alike
But the time has come to move along

The fire fades away
Most of everyday is full of tired excuses

But it's too hard to say
I wish it were simple but we give up easily
You're close enough to see that you're the other side of the world to me

Can you help me?
Can you let me go?
And can you still love me when you can't see me anymore?

The fire fades away

Most of everyday is full of tired excuses
But it's too hard to say
I wish it were simple but we give up easily
You're close enough to see that you're the other side of the world to me
You're on the other side of the world to me...